Depósitos minerais
Depósitos minerais são acumulações naturais de minerais suficientemente ricos em determinados elementos químicos que tornam possível a sua exploração comercial. Os depósitos minerais podem ter diversas origens relacionadas com processos magmáticos, metamórficos ou sedimentares, e podem ainda ser classificados como singenéticos, quando se formam ao mesmo tempo que a rocha-mãe, e epigenéticos, quando depositados tardiamente relativamente à rocha-mãe.
A origem dos depósitos minerais na área deste MNL é singenética, uma vez que está relacionada com o processo de formação das rochas magmáticas que nele ocorrem, nomeadamente com a circulação de fluidos hidrotermais em fraturas durante as fases finais de cristalização dessas rochas (Fig. 5.1).
Os fluidos hidrotermais, correspondem, essencialmente, a água quente existente em profundidade contendo minerais e outros compostos químicos dissolvidos a partir das rochas por onde passam ou provenientes do próprio magma em arrefecimento. À medida que arrefecem, libertam os compostos em solução originando assim depósitos minerais. Na área do MNL e zonas limítrofes existem ocorrências de depósitos minerais de ouro, tungsténio (volfrâmio), estanho (cassiterite) e prata.
Figura 5.1. Formação de depósitos minerais associados a rochas magmáticas.
A exploração económica de depósitos minerais
A existência de depósitos minerais numa determinada região não implica, necessariamente, a sua exploração económica, uma vez que esta depende de vários fatores. Aspetos naturais como o tipo de formação geológica onde se situa um determinado depósito mineral e o clima existente na região podem ser um importante condicionamento. Já no que respeita às características do próprio depósito, a concentração do(s) elemento(s) químico(s) aí existentes é determinante: quanto mais elevada for, mais rentável é a sua exploração. É igualmente importante que a dimensão do depósito seja suficientemente grande, para justificar o transporte e utilização de tecnologia e equipamento dispendiosos na sua exploração.
O método de exploração também é um fator significativo: de um modo geral, a exploração em pedreiras (a céu aberto) é menos dispendiosa do que a exploração subterrânea (em minas). Por outro lado, o valor médio dos salários dos trabalhadores das explorações mineiras determina igualmente a rentabilidade das mesmas.
A exploração de depósitos minerais está dependente da utilização em diversas atividades económicas dos materiais nelas explorados. Mudanças socias e culturais conduzem à procura de diferentes matérias-primas por parte da população humana, levando a um aumento da procura de determinados minerais (Fig. 5.2). Os recursos minerais são assim uma mercadoria com elevado valor comercial e estratégico cujo preço está dependente da lei da oferta e da procura e da existência de tratados comerciais entre países, podendo variar grandemente a sua cotação nos mercados.
Figura 5.2. Para fabricar um telemóvel são necessários 10 a 15 kg de minério, incluindo 7 kg de minério de ouro de elevado teor, 1 kg de minério de cobre, 750 g de minério de tungsténio e 200 g de minério de níquel.
Este conjunto de fatores torna a atividade mineira extremamente dinâmica, tanto no espaço como no tempo. Existem regiões que, em determinadas alturas, podem ser muito prósperas devido à atividade mineira que aí se desenvolve, mas que podem entrar em declínio económico quando essa atividade decai ou é mesmo interrompida, temporária ou definitivamente.
Património geomineiro
Ao longo dos tempos, a população humana sempre dependeu do uso de rochas e minerais para a sua sobrevivência. Os vestígios da mineração histórica são um valioso património uma vez que nos permitem conhecer os hábitos e as atividades de antigas comunidades. Estes vestígios podem ser muito diversificados: equipamentos e instalações, registos gráficos, escritos e orais, modificações no relevo, existência de galerias ou frentes de exploração a céu-aberto, escombreiras, entre outros; trata-se do património mineiro. Quando associados a estes vestígios se verifica ainda a ocorrência das rochas e minerais que foram explorados, utiliza-se a expressão património geomineiro. Não raras vezes, este património mineiro pode sobrepor-se ao que é também conhecido como património industrial, em especial quando restam elementos dos equipamentos e instalações industriais utilizados durante a mineração. Em Portugal, são particularmente comuns em diversas regiões, os vestígios associados à exploração de ouro feita pelos romanos e, mais recentemente, à exploração de volfrâmio em meados do século XX (Fig. 5.3).
Muitas vezes, a mineração antiga e inativa é consideradas um ativo negativo em determinadas áreas porque os impactos ambientais, visuais e sociais são frequentemente associados a essas áreas. No entanto, esta perspetiva está gradualmente a mudar e os vestígios da mineração são encarados atualmente como um potencial recurso turístico e educacional, que pode trazer progresso económico e social para as comunidades locais.
Por exemplo, na Península Ibérica, existem alguns exemplos interessantes relativos ao uso do património mineiro. No norte da Espanha, a área de mineração de ouro de Las Médulas é um excelente exemplo do uso da tecnologia de mineração durante o império romano, onde todos os elementos da paisagem antiga sobreviveram num grau excepcional. Las Médulas está inscrita na Lista do Património Mundial da UNESCO por razões culturais desde 1997 e recebe milhares de visitantes todos os anos. No sul de Portugal, as minas do Lousal exploraram pirite durante quase todo o século XX. Em 1988, terminou esta atividade e hoje um projeto turístico e educativo está a mudar a vida das comunidades locais, sendo inclusivamente um polo da Rede de Centros Ciência Viva.
Figura 5.3. Fotografias dos trabalhos de pesquisa da mina do Alto da Bouça da Breia, 1957: A – Aspecto geral da região e instalações mineiras; B – Escombreira; C – Poço; D – Galeria em filão pegmatítico; E – Galeria do filão pegmatítico; F – Poço sobre o filão de Au (Dossier 3146, RRM, 1957) (Arquivo da Direção Geral de Energia e Geologia).
5.2. Meteorização e relevo residual
Existem três tipos principais de meteorização: mecânica, química e biológica. Durante a meteorização mecânica, o choque entre sedimentos em rios, praias e desertos, por exemplo, leva à sua progressiva fragmentação e arredondamento, fenómeno conhecido por abrasão. O desenvolvimento de fraturas nas rochas também é importante para a ocorrência da meteorização mecânica. As fraturas permitem a circulação de fluidos na rocha, principalmente água. Quanto mais densa é a rede de fraturas, maior a quantidade de água circulante e, consequentemente, mais intensa será a meteorização. Por vezes, a água que circula nas fraturas pode levar à precipitação de minerais que, à medida que crescem, exercem pressão sobre a rocha, levando ao alargamento progressivo das fraturas. Por outro lado, quando a água congela no interior das fraturas, o seu volume aumenta cerca de 9%. Este processo também faz aumentar a pressão sobre a fratura, levando ao seu alargamento. Quando volta ao estado líquido, a água penetra mais e mais nos novos espaços entretanto abertos na fratura, levando a que a rocha se altere pouco a pouco em resultado dos sucessivos ciclos de gelo e degelo. O calor favorece igualmente a meteorização mecânica, particularmente em regiões desérticas, onde se verificam variações extremas de temperatura entre o dia e a noite, podendo originar fraturas nas rochas. Também o crescimento das plantas, pelo aumento do volume das raízes em fraturas, contribui para o alargamento progressivo das fraturas.
A meteorização química resulta de reações químicas entre os minerais que constituem as rochas, a água e os gases da atmosfera. Nem todos os minerais reagem da mesma forma uma vez que a sua composição química e estrutura cristalina são distintas. Por exemplo, minerais com ferro tendem a oxidar rapidamente na presença de água e de oxigénio, levando à sua alteração e modificação das suas propriedades físicas e químicas. O clima também influencia bastante a meteorização química, uma vez que estas reações de alteração são mais aceleradas sob temperatura elevada e na presença abundante de água. Assim, climas tropicais húmidos provocam uma acelerada meteorização química, enquanto que nos climas polares as rochas sofrem uma lenta meteorização química.
A presença de alguns organismos nas fraturas das rochas e na sua superfície pode originar certos compostos químicos que contribuem para a meteorização química das rochas. Os efeitos da alteração (física e química) provocada por seres vivos é designada por meteorização biológica.
As rochas que sofrem meteorização ficam fragilizadas, levando ao desmantelamento dos maciços rochosos, processo conhecido por erosão. Meteorização e erosão são, assim, processos distintos, mas complementares. A meteorização favorece a erosão e esta, por sua vez, expõe novas superfícies das rochas aos agentes de meteorização.
O relevo neste MNL
Como já foi referido, existem diversos fatores que condicionam a meteorização. Rochas cujos minerais constituintes sejam mais resistentes vão ter tendência para se alterarem mais lentamente e, em consequência, ficam mais frequentemente salientes no relevo terrestre (Fig. 5.4). É o caso dos quartzitos, rochas metamórficas constituídas, quase que exclusivamente, por quartzo, um dos minerais mais resistentes à meteorização. Neste MNL as rochas metamórficas estão associadas a relevos alinhados, com direção NW-SE, que se destacam no relevo local (Fig. 5.5).
Figura 5.4. Mapa evidenciando o relevo geral da região. Na zona a norte do MNL são evidentes os relevos alinhados (cristas) correspondendo a rochas metamórficas mais resistentes à erosão.
Figura 5.5. Evolução do relevo na zona do MNL durante os últimos 70 milhões de anos.